O JUIZ E A TRAVE – Mt 5:3-7


O Livro de Provérbios já nos alerta para o fato de que no poder da língua está a vida e a morte. Temos o poder de escolher o que verbalizar o que liberar quanto indivíduo sobre indivíduos.

"A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem utiliza come do seu fruto." Provérbios 18:21

Nesse tempo me assusta ver ministros que fazem de sua sapiência, um instrumento de juízo e usam toda a energia de suas vidas para imprimir sua visão e experiências traumáticas, como crivo para pregar normas e regras, ás quais todos devem submeter-se. Qualquer outro ministro, crente ou servo que não veja pela mesma lente é taxado por esses de hipócritas, mentirosos e inimigos do evangelho. Eles geram um "barulho" cercado de teologia partidária em sua aplicação, apresentam seus títulos e se valem do carisma para gerar seguidores que façam eco ao som dos seus corações, diferente do som que vem da pura e sã doutrina.

O grande problema não está na doutrina, na teologia e nem mesmo na igreja de Cristo, o absurdo está na aplicação da palavra.

Vou exemplificar para ficar mais claro. O "cara" teve problemas com drogas, ou teve a infelicidade de presenciar em sua própria família desajustes conjugais, e até cenas de violência. No entanto foi resgatado por Jesus, tornou-se um servo, um pastor, um ministro do evangelho. Até aí tudo bem, que lindo testemunho a ser compartilhado. O problema é que ele pega essa experiência ruim do passado e usa como paradigma, como lente, para ver e pregar o evangelho. 

Tudo que ele prega e ensina passa a ser uma cobrança sobre todos, que passam a receber de uma doutrina carregada com o peso daquela experiência dolorosa e pessoal daquele ministro. É como se de alguma forma, ele se tornou um "caça-fantasmas" , ele está buscando nos outros, os mesmos defeitos encontrados nas pessoas do seu passado, que o fizeram sofrer. Suas ações, sua atitude de posse da palavra, é pregar de forma a caçar na vida dos outros algo que o fez sofrer no passado. (Lembrando que esse é apenas um exemplo aleatório)

Entende como isso difere da sã doutrina?

A sã doutrina é sã justamente por não se envolver com as intempéries da alma humana. Ela é algo puro que vem de um Deus puro, para dar formato ao "pensamento" humano, residente em alguém que anteriormente tenha tomado a decisão de se colocar aos pés do criador.

"E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão." Mateus 7:3-5

É necessário que nos lembremos quanto servos de Deus, que existe um ensino CLARO na palavra gritando aos nossos ouvidos uma sentença que diz: EXISTE UMA TRAVE EM SEUS OLHOS!

É preciso que nossas "pregações" partam de um lugar de conhecimento, revelação e quebrantamento. Existe uma trave não no outro, não no colega em primeira instância, mas em você mesmo. Começa na sua auto-análise, suas mensagens devem confrontar você mesmo antes de ser lançadas como alimento, como desafio sobre outros.

Não podemos adquirir a "habilidade" de pregar ATRAVÉS da trave, usando-a até de forma inadvertida, como uma lente por onde enxergamos o evangelho. Isso sim tem tornado o evangelho das boas novas, uma péssima notícia. Paremos de pregar através da trave, pois as escrituras dizem: REMOVA A TRAVE!

A pregação da sã doutrina vem de um olhar sem traves, sem experiências traumáticas como base. Essas experiências estão presentes em todos nós, mas elas precisam ocupar o lugar secundário na exposição da palavra, ela não é um crivo, mas é sim uma experiência de algo que foi vencido e que ficou lá atrás na história de nossos processos na caminhada com Cristo. Se o que te feriu e te envergonhou no passado, for uma arma de batalha que você usa hoje para oprimir, excluir e punir enquanto prega, você vai precisar parar e resolver isso dentro de você. Entenda que existe um único justo juiz e esse trabalho cabe a Ele.

Não importa o quanto você cresceu, estudou e alcançou em sua vida pessoal cristã, você não é o justo juiz, afinal de contas você somente pode figurar hoje como cristão, porque ELE te justificou, com base no direito de perdão conquistado na cruz. (Tendo por base sua confissão de pecados e arrependimento.)

Escrevo esse texto enxergando em mim mesmo uma ponta dessa trave ainda presente em meu olhar. E somente escrevo publicamente porque estou em guerra contra ela, me humilhando diante do Pai e buscando estar maduro e purificado para continuar a caminhada do pastoreio, sempre em humildade e quebrantamento, com os olhos fitos não só na bondade de Deus, mas na retidão e justiça tão nítidas no meu amado Deus.

De posse disso, sofro como intercessor antigo pelo Brasil, vendo no mundo espiritual a desconstrução da sã doutrina pregada pelos lábios de bons homens de Deus, mas que estão chateados, irados, raivosos, procurando vítimas em que possam enxergar erros para descarregar sobre esses a sua ira. Tenho dito e ensinado ao longo dos anos que Deus não é um Deus chateado procurando pecadores ou pessoas para que Ele descarregue sua ira. Deus é um Deus feliz. Se Deus não prática essa "caça aos fantasmas" por que Ele levantaria você pra isso?

Deus não quer exclusão, Ele quer reconciliação, maturidade, equilíbrio, humildade, serviço. Ele confiou a nós o ministério da RECONCILIAÇÃO. Pessoas precisam ser direcionadas a Deus para que possam se alinhar a Ele.

"Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por intermédio de Cristo e nos outorgou o ministério da reconciliação. Pois Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo, não levando em conta as transgressões dos seres humanos, e nos encarregou da mensagem da reconciliação.” 2 Coríntios 5:18-19

Termino esse texto pensando e mastigando o entendimento de que idade não é sinal de maturidade, assim como números não determinam o sucesso de um homem de Deus. Prossigo olhando para o alvo, me humilhando, lutando com a minha própria trave, para ter a legitimidade de ensinar que a mesma está presente em todos nós, até que conscientes desse fato, tomemos a decisão individual de permitir que CRISTO nos vença.

Só conseguiremos colocar o povo em liberdade através da sã doutrina, e essa é de domínio publico, não foi escrita pra dificultar a vida dos outros, e sim para trazer a boa noticia de que Jesus nos comprou, somos Dele, e somente por meio do conhecimento individual dele, alguém pode ser livre e permanecer em liberdade. Antes de curar, é preciso ser curado, é preciso deixar em cada estação de nossas vidas as dores de cada experiência.

Você pode até não estar consciente disso, mas saiba: “Se você consegue reconhecer argueiros e traves nos olhos e na vida de outros, é porque você as conhece, você já teve ou tem relação com ela.”

Se pelo menos pensarmos a respeito disso, vamos para de atirar no nosso próprio pé como igreja de Cristo. Essa é a nossa batalha, até que Cristo seja formado em nós.

Da torre eu te vejo,

@pastorsaulomoscoso


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